
Como treinamentos em RCP começaram a chegar à comunidade de
Resposta à Emergências no início dos anos 70, as palavras
"Annie...Annie...Are you ok? ("Annie...Annie...você está bem?")
começou quase que instantaneamente em todas as sessões de treinamento em RCP,
para Enfermeiros, Técnicos em Emergências Médicas, Bombeiros e policiais. E
aprenderam os primeiros passos para reestabelecer a vida de vítimas de uma PCR.
Muitos dos instrutores que existem, até hoje utilizam desta
frase para ensinar os passos da RCP, como um legado deixado a cerca de 50 anos
atrás, onde tudo começou.
Asmund Laerdal era um fabricante de brinquedos de sucesso,
que virou-se para fazer bonecas de plástico realistas, na década de 50. Laerdal
também era fabricante de simuladores de ferimentos para um grupo de
profissionais da Cruz Vermelha na Noruega. Então, quando soube da nova técnica
de Reanimação Cardiopulmonar (RCP), de cara imaginou manequins feitos sob
medida para usá-los em treinamentos.
O primeiro boneco Resusci Anne foi desenvolvido por Asmund
Laerdal em parceria com o Anestesiologista Bjorn Lind, fazendo sua estreia em
Setembro de 1960, em Stavanger, na Noruega. Anne foi então apresentada ao
primeiro Simpósio Internacional de Reanimação Cardiovascular, em Stavanger, com
a presença de pioneiros americanos como Dr. Peter Safar, James Elam, Archer
Gordon, Henning Ruben e Rudolf Frey. Os doutores Safar e Elam, continuaram com
Laerdal, fazendo melhorias em Annie.
MAS QUEM ERA ANNIE?
A MENINA DO RIO SENA.

Na virada do século 19, o corpo de uma jovem foi retirado do
Rio Sena, em Paris. Não havia nenhuma evidência de violência e assumiu-se que
ela tinha tirado sua própria vida.
Devido a sua identidade não poder ter sido estabelecida, uma
máscara mortuária foi feita, como era de costume em tais casos.
Delicada beleza da jovem e um sorriso adicionado ao enigma
de sua morte inspiraram histórias e poesias em torno dela, que se acredita ter suicidado
para escapar de um amor não correspondido.
A história de "L'Iconnue de la Seine" (a
desconhecida do Sena), tornou-se popular em toda a Europa, assim como
reproduções de sua máscara mortuária.
Asmund Laerdal conhecia a história da máscara mortuária da
jovem desconhecida, cujo corpo foi retirado do Rio Sena, em Quai du Louvre, em
Paris, no final dos anos 1880. Suas feições eram lindas e perfeitas para o
propósito. Laerdal escolheu tal rosto para implantar na boneca, pois reconhecia
que os homens talvez pudessem ser relutantes em "beijar" uma imagem
masculina. Ele colocou o nome de Annie nas famosas bonecas e obteve grande
sucesso nas vendas, nomeando-a de Resusci Anne.
Os primeiros bonecos Resusci Anne eram grosseiros e simples
comparados aos descendentes eletrônicos de hoje. Mas eles foram muito eficazes
e deu a milhares a oportunidade de praticar as técnicas de Reanimação. Entre os
alunos, a boca era limpa com algodão embebido em álcool. Sua face e parte das
Vias Aéreas eram as únicas peças plásticas que deveriam ser retiradas para
desinfetar, após cada aula.
A necessidade de estender corretamente o pescoço a fim de
abrir as vias aéreas, foi demonstrado com sucesso entre os alunos e, no
pescoço, havia sido incorporadas bexigas de borracha para que o Instrutor
pudesse simular o pulso carotídeo, utilizando uma pêra de mão (similar as
encontradas nos esfigmomanômetros).

*Imagem da primeira Resusci Anne (Meados de 1970)

A próxima geração de bonecas Resusci Anne eliminou a
necessidade de insuflar o corpo a cada nova turma de alunos, onde foi
substituído o balão de látex por esponja. Um novo tipo de manômetro foi implantado
e permitia aos alunos saber qual era o ritmo cardíaco apropriado a ser
realizado. Alguns modelos ainda possuíam pulmões que poderiam ser substituídos
a cada turma, não havendo necessidade de limpeza, pois eram descartáveis.
Tempos mais tarde, um "Boneco bebê" foi
introduzido à produção, seguido por um manequim infantil.
Como os treinamentos em ALS (Advanced Life Support)
progrediram, Laerdal desenvolveu uma Anne com eletrodos capazes de serem
anexados ao seu simulador de arritmias cardíacas, sendo possível a realização
de reais desfibrilações/choques.
Na década de 90, houve muito foco em relação à prática de
"Somente-mãos", logo, então "pequenas Annes (somente torço)"
foram introduzidas em 1995 como "treinador suplementar" para atender
a necessidade de um menor custo benefício entre aluno-manequim, não havendo
necessidades grandes de implantar bonecas com muita tecnologia.
No final, Resusci Anne foi responsável (e ainda é) por
milhões de treinamentos e melhorias nas práticas da RCP (Reanimação
Cardiopulmonar), mas sempre foi inevitável que profissionais membros de equipes
de resposta a emergências, evitassem brincadeiras para aliviar o clima dentro
de seus estressantes dias de trabalho.
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